



Onde a Natureza se confunde com a Serra
Sabiam que há mais de cinquenta anos houve um espectáculo de ópera no Ervedal? Pois é verdade!
Este facto não teria nada de especial, para além de ser um evento cultural importante, se os artistas que cantaram e representaram a ópera fossem profissionais; só que eles eram todos amadores e ERVEDALENSES.
A ópera tinha por título “Inês de Castro” e contava de um modo trágico-cómico os amores infelizes de Pedro e Inês.
Não sei quem era o autor do libreto, mas seguia “quase à risca” os factos que aprendemos na História. A música foi “encomendada” a mais de uma dúzia de autores que se esmeraram nas melodias das diversas “árias” que compunham a obra e ia do folclore à música latino-americana, passando pelo fado e música popular portuguesa e brasileira.
A propósito deste espectáculo ocorre-me um episódio que não resisto a contar pela graça de que se reveste.
Escolhido o elenco, constituído por uma rapariga (Inês de Castro) e por uma data de rapazes que representavam as diversas personagens, começaram os ensaios.
Iam estes já numa fase bastante adiantada, quando uma noite a mãe da moça que fazia a Inês foi assistir ao ensaio.
Entram em cena os três malvados encarregados de matar a Inês que, “posta em sossego”, não suspeita do que está para lhe acontecer. Depois de um curto diálogo – cantado, claro – atacam esta “ária” de gelar o coração. (A música é a do Sebastião come tudo sem colher):
Vamos então acabar com esta dança, De repente sem fazer muito barulho. Eu cá por mim espeto-lhe a faca na pança E nós os dois mais abaixo no bandulhoPronto…tudo estragado!
“- A minha filha não tem pança nem bandulho – protestou a mãe da Inês que acrescentou – Arranjem outra pessoa para esse papel que eu não autorizo que ela o faça!”
Opinião legítima mas que deixou a ópera sem protagonista porque as outras mães presentes também não autorizaram as respectivas filhas a substituírem a Prima Dona.
Os amantes de teatro não se deixam esmorecer com a primeira contrariedade e então se forem ervedalenses o caso fica ainda mais fino.
Não há raparigas? Faz-se com rapazes! E fez-se…
Agora tentem imaginar o Serginho (não é o da televisão! Refiro-me ao Sr Sérgio de Albuquerque a quem presto as minhas homenagens), “travestido” em Inês de Castro, com o seu vozeirão, a cantar com voz de falsete esta romântica ária: (música de Besame mucho)
Beija-me, beija-me muito Como se fosse esta noite a última vez Beija-me, beija-me muito Beija D. Pedro a tua Inês Ou esta: (música de É pau é bicho mau) Ai Jesus, ai Jesus, Ai Jesus que estou tramada Dão-me cabo do canastro Sem razão pois não fiz nadaTanto quanto me consigo lembrar, esta récita foi um enorme sucesso.
José Pombo
(Artigo enviado pelo Ervedalense radicado em Lisboa)
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História interessante.
Quem poderá ajudar-me a obter o nome de todas as pessoas que fizeram parte desta Opera, quem foram os autores das músicas e em que ano aconteceu?
Outra actividade interessante da qual apenas sei que terá existido nos anos cinquenta do passado século, foi um rancho folclórico no Ervedal composto por homens e mulheres ervedalenses; poderá alguém indicar-me onde posso colher informações acerca desde rancho?
Era eu criança e ouvi algumas vezes pessoas maduras dizerem que no Ervedal até as galinhas sabem música!
Cumprimentos,
Ramos da Costa