“Por aqui passaram os mais diferentes povos da antiguidade, os quais, por meios pacíficos ou pela conquista, se instalaram, dominaram e muitas vezes, se confundiram com os primitivos povos naturais.
Os Cartagineses, dominaram aqui, desde o século VI até ao ano 218, antes de Cristo.
Seguiram-se-lhes os Romanos, cujo domínio durou desde aquele tempo até ao século V da era cristã, cerca do ano 409.
Vieram depois os povos bárbaros a que se seguiu a monarquia visigótica, que durou desde 414 até ao ano de 710.
Todas as lutas para a posse do território, e, especialmente, as que se travaram entre os príncipes cristãos e os muçulmanos, dominadores da península, revestiram-se da maior violência no decorrer de grandes batalhas, com inúmeros ataques e contra-ataques.
ERVEDAL deve ter suportado todas as inclemências a que estiveram sujeitas as outras povoações da região.
Que assim é, de facto, atestam-no os inúmeros vestígios que se deparam, por vezes, nos campos que circundam a vila, a que nem sempre se liga a devida importância, por desinteresse ou por desconhecimento do seu valor para estudo do passado do Ervedal.
Identifica-se aqui a existência de velhas paredes de sílex ou de granito, ou melhor, as suas fundações ou alicerces, quase destruídas pelos anos e pelos homens; a existência de «lateres», ou tijolos do tipo romano, inteiros ou fragmentados; assim como «imbrices» e «tegulae», duas espécies de telha também usadas pelos romanos e árabes, alguns fragmentos de cerâmica, barro preto, finamente trabalhado e ornamentados; e até vários pedaços de «mola manuária», mós de uso manual tão vulgares nas atafonas árabes; enfim, uma porção de coisas de incontestável antiguidade.
Tudo o que fica dito, não teria tão grande valor se não se apresentassem outros elementos de identificação da existência de um burgo tão importante que aqui se ergueu, Ervedal.
Esses elementos, palpáveis, visíveis, não podem deixar restar dúvida a quem os analise e os submeta a uma observação calma e ponderada.
Bastaria para confirmar a existência de uma povoação importante, nestas cercanias, o belo exemplar de ponte romana que se ergue próximo daqui, no rio de Seia, no caminho vicinal para Travanca e conhecida por ponte de Vale de Negros, ou ponte da Ribeira;
Assim como por exemplo, a anta de Vale de negreiros, o dólmen ou anta da cavada, de pequenas dimensões de que resta a câmara adaptada para abrigo de pastores em Fiais da Beira a 3 km do Ervedal, e a anta do Seixo. Antigas construções sepulcrais constituídas por uma câmara formada por grandes esteios e na fachada superior por lages horizontais.
Mas muito mais provas existem que nos provam que Ervedal é antiquíssimo, tais como: a existência de algumas sepulturas de forma antropomórfica, cavadas na rocha que, parcialmente, serve de base ao edifício da nossa actual igreja matriz, vendo-se ainda parte de outras que foram sacrificadas quando da construção do templo.
Da idade destas sepulturas, nada se sabe ao certo.
O povo chama-lhes «romanas», porque a tradição diz que são do tempo dos romanos, sem nada haver que confirme essa tradição e sem que haja, também, coisa alguma que a conteste.
O que não há dúvida, porém, é que são antiquíssimas e que, quer sejam do tempo da dominação romana, da monarquia visigótica, da época da invasão árabe ou da reconquista. Essas sepulturas pertenceram a cavaleiros cristãos dos primeiros tempos da Idade Média, como claramente o indicam as cabeceiras de sepultura que, sem dúvida alguma, primitivamente lhes pertenceram e que hoje se encontram a servir de elementos de ornamentação em vários muros que circundam o adro da actual igreja. São as «cruzes do adro» que há alguns anos foram indicadas por ervedalenses, como possíveis «relógios de sol» ou «quadrantes solares».
A existência destas sepulturas tem já um significado muito importante. É que isso vem-nos afirmar, ou confirmar categoricamente, que nas proximidades existira uma povoação antiga. Ervedal de outros tempos!
Erguia-se essa povoação um pouco ao sul da actual igreja matriz, aproximadamente no sítio hoje denominado «Olival dos Pobres», onde têm sido encontrados os vestígios materiais que, muitas vezes, são descobertos e destruídos no decorrer dos trabalhos agrícolas.
Outra particularidade interessante é a denominação dada, nos tempos actuais, a parte sul da vila do Ervedal: Cimo da Vila.
Estando a vila do Ervedal situada em terreno mais ou menos plano, é precisamente no ponto em que começa a verificar-se uma descida, que se chama o «Cimo da Vila».
Ora, se o local assim denominado é precisamente o ponto mais baixo e o mais antigo da povoação, não se compreenderia que os antigos ervedalenses fossem chamar «cimo» ao que é precisamente a parte mais baixa!
Para isto apenas existe uma explicação lógica de que a povoação se erguia aproximadamente no Olival dos Pobres, por compreensíveis necessidades de alargamento e expansão, foi-se estendendo para cima, para a parte superior da encosta, procurando atingir o planalto onde hoje está edificada e onde os seus habitantes encontrariam melhores condições biológicas e de defesa.
Com o rodar dos tempos a povoação tem-se desenvolvido numa expansão sempre crescente e, no decorrer de oito séculos, muitas construções foram sendo feitas de novo, sempre na direcção do norte e no sentido do planalto.
Todo este aglomerado de circunstâncias nos vem confirmar a antiguidade de Ervedal, sendo possível que esta terra seja uma das muitas povoações de fundação romana.
Se, porém, ainda pudessem restar algumas dúvidas acerca da sua antiguidade, elas desapareceriam imediatamente sabendo-se que no reinado do nosso D. Sancho I, em 1193, já Ervedal tinha o seu foro de vila.
É referente a esta data, nos aparece na história a primeira notícia de Ervedal. Essa notícia diz respeito à doação do Ervedal feita pela rainha D. Dulce, mulher de D. Sancho I, em Agosto de 1193, ao convento de S. Romão de Seia, sucursal do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
Mas, em 17 de Fevereiro de 1196, verificou-se um ataque dos mouros ao convento de S. Romão, o qual, depois de cercado e incendiado, foi destruído e arrasado, tendo morrido no incêndio todos os cónegos que nele se encontravam, e Ervedal voltou novamente à posse de D. Dulce.
Chegou mais tarde outra notícia em que se afirma que a mesma rainha, no ano de 1194, fez doação da vila do Ervedal, ao Prior Geral do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, D. João de Fróis, seu confessor, pela grande convicção que tinha acerca da santidade daquele prior. rnEsta segunda notícia diz-nos mais, que o Prior D. João Fróis, dera foral à vila do Ervedal nesse mesmo ano de 1194.
E, por último, até Agosto de 1198, esta senhora fez nova doação da vila do Ervedal, desta vez à albergaria de Poiares, fundada pela mesma rainha.
Estas citações, trazem-nos a certeza da importância que Ervedal possuía naquelas épocas.
Em 1249, recebe a vila do Ervedal o seu primeiro foral até hoje conhecido, em que a infanta D. Teresa, mulher de Afonso IX, rei de Leão, e filha de D, Sancho 1, rei de Portugal, confirma e amplia o «fórum » que sua mãe, a rainha D. Dulce, concedera aos povoadores e habitantes do Ervedal, possivelmente. em 1194…
Neste foral são concedidas importantes regalias, das menos comuns naqueles recuados tempos, aos habitantes de Ervedal, já então organizado em concelho ou município.
Nele ficam claramente estabelecidos os impostos que cada lar era obrigado a satisfazer à albergaria de Poiares. Esses impostos eram regulados pelos rendimentos ou colheitas que cada habitante possuía. Quanto mais se colhesse dos produtos da terra, maior seria o imposto a pagar. Também eram tidos em conta, para esse efeito, os bens de que cada um dispunha.
Ervedal começava, já então, a ter a sua vida própria!
No reinado de D. Afonso III foram os habitantes do Ervedal chamados, por este príncipe, para tomarem parte nos trabalhos de fortificação em Sortelha – na Beira Baixa e de tal maneira se portaram e tais documentos apresentaram, que o próprio rei lhes passou uma carta para o Juiz da Terra de Seia – circunscrição em que o Ervedal estava situado desobrigando-os da prestação de quaisquer outros serviços militares: – a mais importante das regalias que se podiam alcançar naqueles tempos.
E era este, até então, o único imposto que os habitantes do Ervedal podiam ser obrigados a pagar ao rei.
Isto mesmo ficou claramente demonstrado, em 1258, quando D. Afonso III mandou fazer as suas inquirições em Ervedal.
Esta vila foi também um «couto» importante, apenas havendo dúvidas quanto à data em que esse coutamento foi estabelecido. O coutamento de uma terra representava o gozo de privilégios especiais concedidos pelos reis, privilégios esses que consistiam na isenção da maior parte dos serviços, impostos, tributos e obrigações a que se estava sujeito naquelas épocas.
Este coutamento devia ter sido concedido no reinado de D. Sancho I; porém, só se teria tornado efectivo, de facto, no reinado de D. Afonso III.
Muito importante devia ser já este velho burgo, para assim alcançar tão grandes regalias. Mas, muito importantes deviam ser, também, os rendimentos que daqui se extraiam, para a posse desta terra se tornar tão disputada.
Mas a arbitrariedade dos costumes, naqueles tempos, devia atingir também um grau muito elevado; e, embora a terra fosse coutada e isenta das obrigações a que estavam sujeitas a maior parte das outras terras, havia quem, quer invocando o nome do rei, quer por simples imposição particular, quisesse compelir os habitantes desta terra a prestarem serviços ou a pagar tributos a que eles não estavam obrigados, como seja, por exemplo, a cederem os seus familiares para executarem as mais diferentes tarefas.
Levantavam-se conflitos a todo o momento por motivo destas arbitrárias exigências que os habitantes do Ervedal sabiam muito bem não ter obrigação de satisfazer.
E, embora este estado de coisas fosse geral em todo o país, com o rodar dos tempos de tal maneira se agravou que, a pedido do Prior Geral de Santa Cruz, el-rei D. João I concedeu uma Carta de Privilégio, ou Mercê, dada em Leiria a 6 de Março de 1401 aos lavradores do Ervedal, na qual estabelecia que os seus filhos ou criados de ambos os sexos não pudessem ser obrigados a prestar qualquer serviço contra sua livre vontade, fosse a quem fosse, ainda que isso lhes fosse ordenado por qualquer militar, ou mesmo que lhes fossem mostradas cartas ou ordens assinadas por ele rei.
Esta mercê, simultaneamente, dá-nos bem a ideia de como o nome do rei seria falsamente invocado por alguém a quem isso convinha, e de como o Ervedal de outros tempos gozou de importantíssimos privilégios, que só os reis podiam conceder, e que só concediam em casos muito especiais.
E, à medida que o tempo vai decorrendo, vai-se tornando cada vez mais fácil a observação do desenvolvimento da vida do concelho do Ervedal, que, engrandece e toma vulto.
Entramos no século XVI.O concelho do Ervedal aparece fazendo parte da Correição da Guarda, embora continuando a pertencer ao mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
A igreja de Santo André do Ervedal é da apresentação daquele mesmo mosteiro e, tirando a terça para o cabido, rende ao prior 30.0000 réis
Também se sabe que, nesta época, algumas indústrias, especialmente a de tecelagem, já se encontravam muito desenvolvidas no concelho do Ervedal. E, simultaneamente com a indústria, com o desenvolvimento económico, administrativo e judicial, vai-se também acentuando a decadência da pureza dos costumes.
Em 15 de Maio de 1514, el-rei D. Manuel I mandou reformar o antigo foral do Ervedal. O novo foral passado nesta data é, mais ou menos, a cópia, actualizada à época, do foral dado ao Ervedal, em 1249, pela infanta D. Teresa.
Estabelece claramente o que cada habitante do Ervedal desse tempo teria de pagar ao senhorio da terra, isto é, ao mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, e deixa-nos ficar em dúvida se foi reformado para defender a fazenda dos habitantes, ou se para defender os rendimentos do mosteiro.
É que, da mesma forma que muitos dos senhores das terras abusavam na exigência de foros e de serviços, algumas terras havia também em que os habitantes se eximiam, fugindo quanto podiam da prestação dos impostos a que estavam obrigados…
No Ervedal de outros tempos assim parece ter acontecido, pois os seus habitantes «tomando a parte pelo todo» e invocando, talvez. o coutamento da terra e outros privilégios alcançados anteriormente, ter-se-iam julgado dispensados ou desobrigados de todo e qualquer imposto, fosse ele qual fosse.
Pelo menos, em alguns casos e com alguns habitantes, assim se deve ter verificado, segundo se depreende do próprio foral de 1514, na seguinte passagem em que se refere ao foral anterior: rn«Posto que pelo dito foral, dado ao dito concelho e lugar (de Ervedal), fossem postos desvairados direitos, poremos aqui somente os que os Senhorios se contentaram de levar e os poucos (habitantes, subentende-se) de pagar…».Mas o foral de 1514 deve ter reposto as coisas nos seus devidos lugares.
A população deste concelho nos inícios do século XVI em todo o concelho não ia além de 95 moradores.
Pelo menos é esse o número que nos apresenta o primeiro censo oficial da população de que existe notícia, o qual não deve andar muito longe da verdade por ter sido elaborado no próprio local recenseado, em 1527, sob o reinado de D. João III.
E, na vila e cabeça do concelho, em Ervedal propriamente dito, havia uma população de 41 habitantes.
Em Vila Franca, havia 31 e nos Fiais, apenas 23 moradores, nada se sabendo das três Póvoas, naturalmente por não existirem ainda naquela data. Não nos devemos esquecer que nos estamos a referir a uma época recuada de nós quatro séculos. Em todo o caso, torna-se necessário esclarecer que era esta, mais ou menos, a estrutura de quase todos os concelhos, especialmente aqui, nesta região entre o Mondego e a Serra da Estrela.
Neste mesmo ano de 1527, decidiu D. João III reformar o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, «por os seus cónegos estarem um tanto relaxados da sua primitiva observância regular» segundo a própria expressão de um cronista coevo. E, dessa reforma, resultou o alvitre de que com as rendas do priorado-mor do mosteiro, podia D. João III fundar e dotar a Universidade de Coimbra.
Dez anos depois em 1537, mudou-se de facto a Universidade, da cidade de Lisboa para Coimbra. E, em 1545, o Papa Paulo III, por bula de 8 de Junho, passava ordem para a extinção do priorado-mor de Santa Cruz providenciando para que as rendas do mosteiro se aplicassem ao sustento e manutenção da Universidade, incorporando-as na sua receita.Quer isto dizer que, a partir da referida data, a vila e o concelho do Ervedal, passaram a ter nova donatária, desta vez, a Universidade de Coimbra.
Não deixa de ser interessante o benemérito papel que o destino marcou ao Ervedal desde que apareceu na história.
Caridade em toda a sua existência!
Primeiro, como fonte de rendimento para salvação e manutenção dos pobres, doentes e peregrinos, quando pertencente à Albergaria de Poiares.
Depois, da mesma maneira, rendendo para alimento e salvação das almas, quando do mosteiro de Santa Cruz.
Finalmente, contribuindo de igual forma, para o alimento do espírito, para o progresso das Letras, das Ciências e das Artes, num auxílio efectivo e grandioso à causa sacrossanta da Instrução, quando da Universidade de Coimbra.
E, sempre, contribuindo quase anónima, para o progresso, civilização e bom-nome de Portugal.
Porém, a mudança de donatário e a transferência de poderes da jurisdição na vila do Ervedal, do Mosteiro para a Universidade, não se verificou com aquelas facilidades e suavidade que seria para desejar.rnA incorporação do Ervedal, e de outras terras que tinham pertencido a Santa Cruz, no senhorio da Universidade, não satisfez ao mosteiro, o qual recusou o seu acordo a esse facto.
Levantou-se viva polémica que se arrastou durante longos anos e que, finalmente, só veio a terminar por intimação e ameaças de Filipe II (III de Espanha), que obrigou o mosteiro a desistir da demanda, mediante a indemnização de 200.000 réis de juros que a Universidade lhe ficaria a pagar todos os anos, para sempre.
E foi assim que, tendo as negociações para a incorporação das rendas de Santa Cruz na Universidade, sido autorizadas em 8 de Junho de 1545, esta só veio a tomar posse delas, de facto, definitivamente, em 30 de Novembro de 1606, isto é, mais de 61 anos depois.
Portanto, só a partir desta última data, é que Ervedal ficou no domínio efectivo da Universidade, onde se manteve até aos princípios do século XIX, em que passou para a Coroa.
Para se fazer ideia da importância que Ervedal representava, quer para Santa Cruz, quer para a Universidade, bastará dizer que no ano de 1545, todas as rendas da Beira deram àquele mosteiro 380.000 reis, dos quais, só Ervedal, contribuiu com 113.000 réis: ou, se preferirem outros termos de comparação, diremos que, nesse ano, Lagares. Perselada, Torroselo e Oliveirinha renderam para o mosteiro, todas em conjunto, a importância de 120.000 réis; e Ervedal, só à sua parte, lhe rendeu 113.000 réis; quase tanto como as outras quatro todas juntas. E, em 1560, essa quantia elevou-se a 200.000 réis.
Não era, pois, sem razão que aos bons freires de Santa Cruz lhes custaria verem-se privados de tão bela fonte de rendimentos.
Em 1555, já a Militar Ordem de Cristo tinha instituído uma comenda sua em Ervedal, que nesse mesmo ano, rendeu ao seu Comendador, Reitor Frei António das Póvoas, a quantia de 54.000 réis líquidos, além de mais 14.000 réis de taxa que o comendador pagou à Ordem.
No ano de 1570 já nos aparece referência às três Póvoas, que hoje existem na freguesia, Póvoa de 5. Cosme, com o nome de «Louriçal», era talvez de todas a menos importante. Vale de Ferro e Vieiro tinham os seus nomes antecedidos da designação de Póvoa.
A população deste concelho havia crescido e era agora computada aproximadamente, em 164 fogos, assim distribuídos:
Ervedal, sede do concelho, tinha uns 80 fogos.
Vila Franca, com as Póvoas do Vale de Ferro e do Vieiro, com uns 42 fogos.
Fiais, com outros 42 fogos.
Não entrava na conta a povoação de Louriçal (ou Póvoa de S. Cosme) e um certo número de moinhos habitados existentes no rio de Seja, os quais já tinham sido aforados a um tal Pedro Eanes, em 5 de Fevereiro de 1540.
Em 1570, era comendador da igreja do Ervedal, D. Pedro da Cunha. A jurisdição civil e criminal da vila e do concelho pertencia à Universidade, a qual confirmava a eleição dos juizes e outros oficiais de justiça do concelho, embora estes fossem eleitos conforme o uso da terra.rnAs colheitas dos produtos agrícolas estavam calculadas em 2.500 alqueires de pão (milho e centeio), sendo de trigo uns 500 alqueires de vinho, uns 300 almudes; e umas 150 varas de pano de linho, o que, nas medidas hoje empregadas, daria, aproximadamente, uns 165 metros daquele tecido.
De 1580 a 1640, Portugal ficara sob o domínio dos reis de Espanha e, praticamente, reduzido a figurar como mais uma província espanhola…
Essa submissão durou sessenta anos, teve fim na manhã sublime de 1 de Dezembro de 1640, em que os três estados – nobreza, clero e povo – proclamaram em Lisboa e, seguidamente, em todo o país a restauração da nossa independência, para a consolidação da qual se seguiu uma longa guerra com a Espanha, que só terminou com o tratado de paz, assinado em 13 de Fevereiro de 1668.
Nos fins do século XVII, princípios de XVIII que é quando menos notícias se encontram acerca do Ervedal, esta terra não tinha correio próprio. Servia-se, por isso, dos correios da Lageosa, de Seia e de Oliveira do Conde; é interessante acentuar, porém, que estas localidades também não tinham correio próprio e serviam-se, por sua vez, e nas mesmas condições, respectivamente, dos correios de Oliveira do Hospital, da Guarda e de Viseu. Era tudo uma questão dos itinerários seguidos pelos estafetas que desempenhavam o serviço do correio naquelas épocas.
No entanto, é de recordar que, pelo que respeita a meios e vias de comunicação, já em 1700 a vila do Ervedal era servida e atravessada por uma das principais estradas do país.
Esta estrada, mencionada como itinerário nacional e militar daqueles tempos era obrigatória na ligação entre o sul e o norte do país, especialmente entre Santa Comba Dão, Gouveia e Guarda, e, destas terras, com a Corte de Lisboa.
Já então existia a ponte da Atalhada que estando no limite desta freguesia, nesse tempo tinha um marco de pedra, junto do fim da ponte, o qual marcava a divisão dos bispados de Coimbra e de Viseu, pertencendo, portanto, a ponte ao nosso bispado. Esta ponte da Atalhada, mais de um século depois, quando se verificaram as invasões francesas, teve que ser cortada pelas tropas anglo-portuguesas para evitar, ou retardar, o avanço do invasor, se por acaso ele tivesse a intenção de se utilizar desta estrada.
Ervedal desde muito cedo gozou de regalias importantes, que muitas outras terras nunca usufruíram; desde longa data viveu a sua vida própria e desafogada, que durante tantos anos desfrutou; e, desde sempre, foi conhecida, procurada e habitada por gente da mais ilustre, não só desta província da Beira, como de todo o país.
Diremos, agora algumas palavras sobre uma das famílias que mais directamente uniram o seu nome e a sua vida a Ervedal da Beira, e cujos componentes, por serem conhecidos pelos «fidalgos do Ervedal», falamos da família Tavares Pinto, Castelo Branco, ou Albuquerque, cujo solar ainda hoje se distingue e ergue altaneiro na vila do Ervedal.
A casa ou solar dos fidalgos do Ervedal foi mandada construir nos fins do século XV, ou princípios do século XVI, por Diogo Brás Pinto, filho de António Pinto de Gouveia e de D. Inês Pinto, cuja descendência, com as ligações contraídas com outras ilustres famílias, se tem propagado até aos nossos dias e da qual se têm destacado representantes da mais elevada condição social.
Este solar que muito se distingue entre os típicos solares que toda a Beira conta em grande número, no dizer de um ilustre artista descendente do Ervedal, «é um conjunto muito original e genuinamente português de velhas casas nobres, construídas em varias épocas.
Na sua parte sul está o edifício primitivo – construído no século XVI- e que é a casa típica do fidalgo lavrador daquela época. Na parte central, outro edifício, construído no século XVIII. E, na ala norte, a capela, construída no século XVII, em cujo interior se encontram as sepulturas de António Tavares Pinto e de sua mulher, D. Ana de Sequeira Castelo Branco, fundadores da capela.
Todo o solar possui interessantes elementos artísticos e ornamentais das épocas em que foram construídos os diversos corpos.
É de frisar que «os fidalgos do Ervedal» viram a sua nobreza confirmada por «Carta de Brasão» concedida por el-rei D. João V, em 30 de Junho de 1727, a António Tavares de Albuquerque e seus descendentes, para que pudessem usar «de todas as honras, privilégios, graças, mercês, isenções e franquezas, que tinham e deviam ter os fidalgos, nobres e de antiga linhagem, como sempre os usaram e gozaram seus antecessores.
Em 1757, Ervedal tinha já 292 fogos. O Real Padroado apresentava o vigário da igreja, que tinha 150.000 réis de rendimento anual.
A este vigário, chamado João Henriques, bacharel formado em Cânones pela Universidade de Coimbra, natural do Ervedal e membro de outra ilustre família ervedalense, se devem importantes informações que chegaram até aos nossos dias, e interessantes pormenores acerca da vida do Ervedal desses tempos.
A ele se deve a melhor descrição que se conhece da vista panorâmica que se abrange do Outeiro da Tosse e que, felizmente, chegou ainda que inédita até aos nossos dias, bem como muitas outras importantes informações acerca da nossa freguesia e do concelho do Ervedal.
Em 1758, continuava como donatária do Ervedal, a Universidade de Coimbra.
O concelho pertencia à província da Beira, ao bispado de Coimbra e à comarca da Guarda. A população da freguesia, constituindo 283 fogos, era de 89l habitantes, maiores de sete anos, sendo 424 homens e 467 mulheres. Desta população cabiam à vila do Ervedal. 123 fogos e 416 habitantes, sendo 216 homens e 200 mulheres; a Vila Franca, 57 fogos e 164 habitantes, sendo 72 homens e 92 mulheres; a Vale de Ferro, 6 fogos e 21 habitantes, sendo 11 homens e 10 mulheres; ao Vieiro, 7 fogos e 22 habitantes, sendo 10 homens e 12 mulheres; à Póvoa de 5. Cosme, 19 fogos e 56 habitantes, sendo 25 homens e 31 mulheres; aos Fiais, 71 fogos e 212 habitantes, sendo 90 homens e 122 mulheres, somando, portanto, 283 fogos e 891 habitantes, de sete anos para cima, não sendo contadas as crianças de menos idade e a população dispersa por quintas e moinhos da freguesia.
Já nessa época se encontravam erectas, dentro da vila do Ervedal, as capelas de Santo António do solar dos actuais viscondes e a de Nossa Senhora da Piedade, que era da família de Manuel Esteves.
Nas outras povoações da freguesia havia as capelas dos seus santos padroeiros.
Na vila do Ervedal já se encontrava constituída e com os seus estatutos confirmados, a actual Irmandade de S. Sebastião Mártir.
Também já por esse tempo, aqui se realizava a feira anual de Santo André, no dia 30 de Novembro.
Os impostos que a população pagava é que; na verdade, eram exorbitantes. Por exemplo:
Para a Universidade de Coimbra: um nono dos cereais e do vinho que cada habitante recolhesse. Um alqueire de trigo, outro de milho e outro de centeio, cada lavrador que possuísse uma junta de bois. E trinta quartilhos de vinho (cerca de 20 litros. actualmente), quem o fosse fazer ao lagar. Estes impostos foram arrendados, por três anos, em 520.000 réis para a Universidade.
Para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra: – no mês de Maio, uma galinha e dez ovos, por cada morador.
Para o cabido da Sé de Coimbra: – a terça parte do dízimo de tudo o que a terra desse. Este tributo foi arrendado, no triénio, em 200.000 réis.rnPara a Comenda de Cristo: o dízimo de tudo quanto a terra produzisse. Esta renda foi alugada, num ano, por 305.000 réis pagando ainda o arrematante, 40.000 réis ao vigário da freguesia, 8.000 réis ao cura, 3.500 réis ao altar-mor da igreja e ainda as despesas miúdas da mesma igreja.
No entanto, neste último caso, a receita devia dar bem para as despesas, pois que, no ano de 1757, esta renda deu ao seu arrematante nada menos de 1.600 alqueires de milho e de centeio.
Estes impostos não eram igualmente uniformes para todas as povoações da freguesia, variando algumas prestações de povoação para povoação.
Dentro da freguesia, no rio de Seia, havia 11 moinhos de cereais, 1 pisão e 1 lagar de azeite, no Pisão.
E, no rio Mondego, havia 4 moinhos de cereais.Todas as pontes que existem actualmente nos nossos dois rios, já então existiam também, excepto a ponte do Salto.
Em 1774, com a publicação do decreto de 20 de Agosto, assinado pelo Marquês de Pombal, a Câmara Municipal do Ervedal ficou obrigada a contribuir com 2.310 réis anuais para prémios a conceder aos estudantes e partidos de Farmácia e de Medicina da Universidade de Coimbra, ignora-se, porém, se os anteriores impostos que Ervedal pagava à Universidade foram ou não abolidos.
Estamos já em pleno século XIX e, com ele, aproxima-se também uma época de grandes provações, não só para Ervedal e para o seu concelho, mas também para toda a nação portuguesa. <br>rnLogo em novembro de 1807, tem lugar a primeira invasão francesa, em março de 1808 a segunda e em agosto de 1810 a terceira, pelas províncias da Beira e da Estremadura, que tão grandes consequências haviam de trazer ao país.
Violências e vandalismos dos mais horrorosos foram cometidos à sua passagem, levando tudo diante de si a ferro e fogo. Ervedal, situada na estrada de um dos principais itinerários civis e militares da Beira, estava na trajectória do invasor impiedoso e bárbaro…
Mas, miraculosamente, por um acaso da providência, quando esta freguesia mais tinha a temer pela sua segurança e pelo seu futuro. Massena resolveu mudar de itinerário, virando mais para o norte, seguindo por outro lado a caminho de Viseu e de Mortágua.
E assim, providencialmente, Ervedal escapou sem dano de maior. o que não obstou que a sua população vivesse horas da mais cruel ansiedade, sempre preparada para cumprir a ordem de abandonar a terra e tudo quanto possuísse, ao primeiro aviso de alarme.
Em toda esta zona vizinha se verificaram alguns dos maiores e mais violentos combates de toda a Guerra Peninsular, no nosso país:Mas indirectamente. Ervedal não podia deixar de sentir a influência e as consequências da guerra travada às suas portas.
A ponte da Atalhada, sobre o Mondego, foi feita ir pelos ares, ou cortada, para retardar a marcha dos franceses, na hipótese de eles quererem vir a utilizar-se dela.
Todos os moinhos e azenhas da freguesia, quer no Mondego, quer no Seia, foram inutilizados, isto é, postos em condições de não poderem servir ao inimigo.
Não sabemos qual o verdadeiro tributo de sangue que foi pago pela massa anónima e ignorada do povo ervedalense; isto é, se algum indivíduo do povo do Ervedal foi ferido ou perdeu a vida nos combates travados na região, no país ou no estrangeiro, em defesa de uma causa sagrada, que era de todos os portugueses.
Sabemos, porém, que um membro das melhores famílias do Ervedal, um jovem oficial desta terra, tombou para sempre no campo da honra, honrando-se e honrando da maneira mais sublime a terra de seus maiores.
Miguel Tavares de Albuquerque, oficial do regimento de Infantaria n.0 11, morreu e foram-lhe feitas solenes exéquias, no Ervedal, em 28 de Julho desse mesmo ano de 1812.
Também seu irmão mais velho, Sebastião de Albuquerque Pinto Tavares Freire de Castelo Branco , senhor dos solares do Ervedal e de Midões, tendo assentado praça em 1809, foi ao que se lhe refere um militar distinto, valente e disciplinado, prestando relevantes serviços na Guerra Peninsular, vindo mais tarde a ser condecorado com altas insígnias, contando-se, entre elas, a medalha de «Fidelidade ao Rei e à Pátria», a cruz da «Torre e Espada» e a comenda da «Ordem de Cristo» como consta de documentos e atestados existentes nos arquivos de sua família.
Também o capitão das ordenanças da vila do Ervedal, José António Henriques, prestou inestimáveis serviços à causa da Pátria, durante a Guerra Peninsular.
Confirma-se também, desta maneira, ter sido Ervedal um dos importantes pontos de passagem dos contingentes do exército português ou aliado a caminho das fronteiras ou dos pontos de combate. durante as invasões francesas tropas essas que, algumas vezes, aqui permaneceram e se aquartelaram.
Sob o ponto de vista administrativo, em 1811 Ervedal já tinha como nova donatária a Coroa, em vez da Universidade de Coimbra, sua anterior senhoria.
Era vila, freguesia e concelho, na província da Beira.
Tinha juiz ordinário, ou de 1 a Instância. e pertencia à comarca ou provedoria da Guarda, e à diocese de Coimbra.
Em 1821, o concelho tinha apenas esta freguesia do Ervedal, com 415 fogos e 1.785 habitantes.
Entretanto, chegamos a uma época das mais dolorosas se não a mais triste de toda a história do concelho do Ervedal e que tão nefastas consequências havia de acarretar para o seu futuro para a actualidade.
Refiro-me à Guerra Civil, entre liberais e absolutistas, que de uma maneira tão trágica e violenta enlutou o país inteiro, de norte a sul, e que se revestiu de aspectos muito especiais na Beira, particularmente na região em que o destino fez erguer o concelho do Ervedal.
Em 1835, por um projecto de lei que não chegou a entrar em vigor, o concelho do Ervedal com 440 fogos (segundo o censo de 1820) ficaria a pertencer à província da Beira Alta, ao distrito administrativo de Coimbra e ao julgado de Midões… Mas, em 1836, Ervedal continuava como concelho no distrito da Guarda, com 1.558 fogos, pertencendo judicialmente à comarca de Gouveia e ao distrito da Relação do Porto; e à 6.ª Divisão Militar, subdivisão da Guarda.
É, nesta data, que se verifica o engrandecimento do concelho do Ervedal, com a extinção de outros concelhos.
A partir de então, o município ervedalense sofre uma expansão extraordinária, quer em extensão territorial, quer em numero de freguesias e de povoações.
Ervedal: cabeça do concelho e da freguesia do mesmo nome, com as povoações dos Fiais, Póvoa de S. Cosme. Vale do Ferro, Vieiro e Vila Franca; o casal do Pisão e os moinhos do Buraco, das Figueiras, da Lagarteira, etc. Sameice: sede da freguesia do mesmo nome, com as quintas do Vidoeiro, da Boa-Vista de Cima e de Baixo. da Ribeira, etc. Seixo do Ervedal (hoje, Seixo da Beira): – antiga sede de concelho e freguesia, com as povoações da Sobreda. Seixas, Punhete (hoje Aldeia Formosa), Felgueira (Velha). Pedras Ruínas: os casais da Póvoa da Barbeira, da Ribeira do Vale; e as quintas da Varzinha, do Vale de Perdigões, etc. Travancinha: – sede de freguesia, com a povoação do Casal (antiga sede de concelho): o casal de Vale de André; e as quintas da Pedrouça, da Boca. de Felgais, da Arruda, do Vale de Pia, do Forninho, etc. Várzea de Meruge: – sede de freguesia, com as povoações de Várzea de Cima e Várzea de Baixo, Arcozelo, Casal de Avessada: e as quintas da Eira, do Conde, do Moinho, etc. Tal ficou sendo, em 1836, a constituição do concelho do Ervedal, cuja área atingia uma enorme extensão territorial e possuía uma população muito apreciável. Em 1840, Ervedal é concelho e julgado, com 1.782 fogos (segundo o censo de 1836), na comarca e cabeça de círculo de Gouveia, distrito da Relação do Porto, e com as suas Audiências Gerais em Maio e Novembro. Em 1841, era também capital de distrito de juízo de paz, do qual faziam parte as cinco freguesias do concelho, que pertenciam também ao julgado do Ervedal.
Nas datas de 1840, 1842, 1846 – este concelho do Ervedal era um dos mais importantes da região, em número de habitantes, sendo o terceiro da comarca de Gouveia, isto é, depois do de Gouveia e do de Seia.
Estamos em 1855. O sossego, que durante tantos anos fora perturbado em toda a Beira voltara finalmente, a reinar de novo no concelho do Ervedal, que, apesar de tudo, sempre foi tido e habitado por gente calma, boa e pacífica.
Entrara-se num novo reinado. Nos dias 16, 17 e 18 de Setembro em todo o concelho do Ervedal e, especialmente, nesta vila, tiveram lugar grandiosos e exaltados festejos de regozijo público, pela inauguração do reinado de el-rei D. Pedro V, que toda a gente esperava trouxesse uma nova era de paz e progresso ao nosso concelho e a Portugal inteiro.
No dia 16 desse mês todos os membros da Câmara Municipal, da Administração do Concelho, os párocos de todas as freguesias, as autoridades em geral, as pessoas principais e todo o povo deste Ervedal de outros tempos, reunidos nos Paços do Concelho desta vila, procederam ao Auto de Aclamação do novo soberano, à voz dos «vivas» que lhe eram levantados pelo presidente da Câmara e repetidos por todos os circunstantes, por toda a gente, enfim. Ao mesmo tempo, eram disparadas três salvas reais, de vinte tiros cada uma. Seguiu-se o «Te-Deum» na igreja matriz. Foguetes, morteiros, girândolas de fogo de artifício. À noite, arraial com luminárias; enfim, uma festa real que se manteve por três dias, sem que houvesse o menor indício da tranquilidade pública ser alterada, notando-se somente regozijo e contentamento em todas as pessoas.
Apenas uma nuvem negra a toldar o horizonte feliz deste bom povo ervedalense, não lhe permitindo que a sua alegria fosse completa.Dessa nuvem, da tristeza que impedia o povo deste Ervedal de outros tempos de ser completamente venturoso, dá-nos uma ideia nítida o administrador do nosso concelho, na seguinte passagem de um ofício que, em 22 de Setembro desse ano de 1855, dirigiu ao governador civil do distrito da Guarda: «os meus administrados continuam pacíficos e obedientes, vivendo somente descontentes por uma notícia espalhada por todos os Povos, que o Governo de Sua Majestade, pretende excluir o Concelho e dividir os povos para outros. Esta notícia, Excelentíssimo Senhor, tem feito sucumbir os habitantes, quando é certo que em virtude das Representações que os povos das freguesias de Girabolhos e Paranhos, do concelho de Seia, pediram ao governo que fossem anexados a este concelho (do Ervedal) por entenderem quanto a Administração municipal deste concelho anda tão bem regulada, e mesmo pela sua comodidade pessoal para todos os Povos, e os habitantes lamentam tão rigorosa medida, caso apareça…,” etc.
E este o momento em que a catástrofe, começada em 1853, atinge também o município ervedalense. E assim, pelo decreto de 24 de Outubro de 1855, a que já me referi. o concelho e o julgado do Ervedal, no distrito administrativo da Guarda e comarca de Gouveia, na província da Beira Baixa – foi suprimido…
Extinto sem quaisquer contemplações, depois de alguns séculos de existência e de engrandecimento, passou a pertencer, como simples freguesia e distrito de juízo de paz, ao distrito administrativo de Coimbra, ao concelho de Oliveira do Hospital o comarca ( círculo de jurados de Tábua e à província do Douro!).
Das outras quatro freguesias que constituíam o antigo concelho do Ervedal – Sameice, Travancinha e Várzea de Meruge, continuaram a fazer parte do distrito da Guarda mas foram incorporadas no concelho de Seia, província da Beira Baixa.
Seixo do Ervedal (hoje Seixo da Beira) acompanhou a do Ervedal para o distrito de Coimbra, concelho de Oliveira do Hospital e província do Douro, só voltando a pertencer à Beira em 1936.
E quis o acaso que o concelho do Ervedal não tivesse mais uma ou duas freguesias!… Porque se as tivesse, admirados podíamos ficar se elas não tivessem sido incorporadas no distrito de Viseu, na província da Beira Alta! E, a dar-se esse caso, a extinção do concelho do Ervedal poder-se-ia considerar, então, um autêntico bodo…
O honroso título de VILA, título que nenhuma legislação lhe conseguiu arrancar até hoje e que, com nobreza, galhardia e bem merecidamente, se orgulha de ostentar, pelo menos, desde 1193.
Dezassete dias depois, o decreto de 24 de Outubro de 1855, embora só sendo tornado público em 19 de Novembro do mesmo ano, dava o «golpe de misericórdia» no concelho do Ervedal, já ferido de morte da maneira que acabamos de ver.
E, ainda hoje, apesar de decorrido quase um século sobre o tempo ainda não conseguiu que o povo do Ervedal reconhecesse a razão ou a justiça, pela qual o seu concelho de que tanto se orgulhava e que quase considerava como parte integrante da sua vida, merecesse ou devesse ser extinto, e com o que nunca se conformou, até hoje.
E assim, a vida do antigo e importante concelho do Ervedal terminara.”
**** F I M ****
NOTA todos estes textos desta rúbrica, são extraidos de uma publicação da autoria de Sebastião Ferrão Melo Junior e que foi editada pela Liga Melhoramentos de Ervedal da Beira
Deixe um comentário
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.